segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Girabelhinhas de Loni Rosa

Uma abelha dessas pequeninas
pousou numa foto de uma flor
e um romance todo feito em cores
foi se revelando, fez-se amor
Carregou a foto para a colméia
e explicou o caso para a rainha
que era sábia e foi dizendo
"Será que você está piradinha?

Esse girassol não vale nada é bonito, mas não passa de um papel
nunca vai lhe dar perfume, pólen, filhos, e aqui nós precisamos é de mel!"

Ela embrulhou a foto em suas roupinhas
e saiu em busca de um cantinho
pra viver seu sonho de verdade
sem rainhas
pra encher o seu saquinho
Hoje existe um lugar na Terra
onde há girassóis que têm asinhas
e abelhas que voam com pétalas
num mundo novo
cheio de girabelhinhas

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Repentista

Hoje estou disponibilizando 3 faixas deste gênero com as seguintes duplas:
Valdir Teles e Sebastião da Silva
Louro Branco e Zé ViolaAntonio
Jocélio e Zé MariaFaço
disco pra trator
Fabrico foice e machadoSei fazer lâmina de arado
E roda pra cultivador
Forrageira pra motor
Coronha pra lazarina
Cerca de escora e faxina
Carro de boi e carroça
Sobre os trabalhos da roça
Tudo eu sei ninguem me ensina(Valdir Teles)http://rapidshare.com/files/86552251/Tudo_eu_sei_ninguem_me_ensina.zip.html

Parábola do cavalo

PARÁBOLA DO CAVALO

Um fazendeiro, que lutava com muitas dificuldades, possuía alguns cavalos para ajudar nos trabalhos em sua pequena fazenda.
Um dia, seu capataz veio trazer a notícia de que um dos cavalos havia caído num velho poço abandonado.
O poço era muito profundo e seria extremamente difícil tirar o cavalo de lá.
O fazendeiro foi rapidamente até o local do acidente, avaliou a situação, certificando-se que o animal não se havia machucado.
Mas, pela dificuldade e alto custo para retirá-lo do fundo do poço, achou que não valia a pena investir na operação de resgate.
Tomou, então, a difícil decisão:
Determinou ao capataz que sacrificasse o animal jogando terra no poço até enterrá-lo, ali
mesmo.
E assim foi feito.
Os empregados, comandados pelo capataz, começaram a lançar terra para dentro do buraco de forma a cobrir o cavalo.
Mas, à medida que a terra caía em seu dorso, o animal a sacudia e ela ia se acumulando no fundo, possibilitando ao cavalo ir subindo.
Logo os homens perceberam que o cavalo não se deixava enterrar, mas, ao contrário, estava subindo à medida que a terra enchia o poço, até que, finalmente, conseguiu sair!
Se você estiver "lá embaixo", sentindo-se pouco valorizado, quando, certos de seu "desaparecimento", os outros jogarem sobre você a terra da incompreensão, da falta de oportunidade e de apoio, lembre-se do cavalo
desta história.
Não aceite a terra que jogaram sobre você, sacuda-a e suba sobre ela.
E quanto mais jogarem, mais você vai subindo, subindo, subindo... Sorrindo, sorrindo, sorrindo...

Som do brejo

Som do brejo (marquim do Gonzaga)
(Musica em homenagem ao Milton do Mingote, que deixou a cidade grande e a ultima vez que jantamos juntos foi no outro lado do brejo)

Ouço a brejo cantando
Quando eu me recolho
Ouço o ronco da noite
Junto ao meu repouso

Pra depois pensar
Que um dia eu parti
Que já te larguei pra voar
No mundo lá fora
Vegetei, não vivi.
Aqui sim vejo a cantar

Sou a arvore, e o vento.
Vem me balançar
No terreiro eu sento
Pra ti ver passar

Ao cair da tarde
Alguém passa é Maria
Ela vem benzer o meu lugar
Sem TV, cinema.
Sem comprar a alegria
Aqui eu me vejo a cantar

Tem um ninho em casa
É de um beija-flor
Que ta sem gaiola
Mas me traz alegria

Só a onça hoje
É quem me faz sofrer
Mas louvado seja o luar
Sem jornal sem revista
Sem saber do dia-dia
Aqui eu me vejo a cantar

sábado, 23 de fevereiro de 2008

O filme Sociedade dos Poetas Mortos

O filme Sociedade dos Poetas Mortos mostra claramente o papel de aparelho ideológico que a escola assume. Naquela escola considerada o padrão da época, ordem, disciplina, eram usados no sentido de coibi a expressão e a valorização do pensamento livre. O diretor no início do filme deixa claro para os novos alunos que eles estão tendo uma oportunidade ímpar, pois estudar naquela instituição era privilégio de poucos. Segurando a vela o diretor diz aos alunos: esta é a luz do saber, como se até aquele momento eles nada soubessem.
O tipo de escola mostrada no filme era a de uma instituição tradicional, com metodologia tradicional arcaica, com professores tradicionais, desatualizados, incompreensíveis, acomodados, enfim, tartarugas. Mas como toda regra tem uma exceção, chega à escola o professor Keatingž que usando de criatividade determinação, competência, honestidade e valorização das experiências anteriores a escola, começa a instigar os alunos da escola para que percebam-se sujeitos de sua aprendizagem e não apenas objeto.
A metodologia utilizada por Keating foi muito questionada pelos outros professores. Após Keating haver terminado a sua aula na pátio da escola, um dos professores o elogiou dizendo que a aula havia sido muito boa, no entanto, ele teria problemas mais a frente, uma vez que estava ensinando aos alunos coisas que poderia fazer com eles se revoltassem contra o próprio professor. Mas mostrando serenidade, humilde e sabendo de suas limitações, Keating responde que não deseja formar artistas, mas livres pensadores. A metodologia adotada pelo professor Keating desagradava profundamente a direção da escola que buscava um forma para punir o professor inovador. O que chama muito a atenção é que mesmo existindo tantas formas de linguagem, tantos signos e códigos lingüísticos, é na arte que ele busca a sua inspiração para lecionar e refletir sobre o mundo. Os diversos poemas apresentados e as vários formas de interpretação que Keating os dava, fazia com que os textos tivesse vida o que facilitava o processo ensino-aprendizagem. Tal metodologia fazia das aulas dinâmica, participativa.
O filme é recheado de sensibilidade. Vemos claramente no filme a luta de Neil que deseja ser ator e foi tolhido pela família o que o faz tirar a própria vida, pois, até aquele momento, segundo o que deixará escrito: não havia aprendido a viver. Percebemos na atitude de Neil como os nossos alunos e nós mesmos nos sentimos quando somos privados de fazermos aquilo que realmente gostamos de fazer. Muitas vezes, diferentemente de Neil, não tomamos uma decisão trágica de forma imediata, mas, passamos a vida toda tentando compensar as nossas angustias e decepções. Vimos também no filme a importância da arte na vida das pessoas. Através dela Keating, conseguir despertar a sensibilidade que repousava dentro de cada um. Fez os perceber que não somos apenas razão, mas também sentimentos e que a vida precisa ser vivida intensamente, aproveitando um dia de cada vez (Carpem Diem).
Através da arte, Keating os fez expressar ri, porque o riso faz bem a saúde e a própria vida. Os fez perceber que todos nós somos capazes de dá grandes contribuições para a humanidade, pois cada um de nós é importante. Os alunos de Keating ao tomarem conhecimento da história e dos mistérios que envolviam a Sociedade dos poetas mortos, desejaram conhecer um pouco mais sobre o assunto. Aprenderam vivendo profundamente a essência da vida que palavras e idéia podem mudar o mundo. E é exatamente o que nós esquecemos muitas vezes. Que as nossas palavras tem poder e que podem mudar o mundo para melhor ou para pior, mas mudam ainda que seja apenas o mundo do nosso aluno e por isso somos responsáveis.
O filme é uma grande reflexão sobre a nossa prática pedagógica e sobre o tipo de escola que queremos e o mais importante, sobre que tipo de cidadão estamos a formar: um cidadão alienado ou um ser humano participativo, dinâmico que consegue não apenas se perceber no mundo para interagir criticamente com ele. Um ser humano que vê seus sonhos serem tolhidos ou alguém que nos agradecerá a vida toda pelas grandes contribuições dadas? Desejo ser recordados pelas coisas boas que fizer, não pelos erros que cometo no desejo de acertar.

Gatos e Cachorros

Gatos e cachorros

(Debate entre nominalistas e universalistas, que passou por Platão, pelos os medievais e é, ainda, atual.).
Uso aqui o exemplo do John Shook, Professor na Oklahoma State University. Ele dizia:

No geral:
· Os cachorros são universalistas.
Um cachorro se apega ao dono, e não liga muito para a casa, mas, em geral, qualquer um, sendo humano e que venha a lhe agradar, serve como dono.
· Os gatos são nominalistas,
Podem optar; se um gato cisma de ficar na casa, ele fica ali, tendo ela novos donos ou não. São, na medida em que eles escolhem um ponto, um local determinado e particular para ficar.


Quanto ao homem:
· Os cachorros
Dá importância ao homem, o conceito de homem. Eles não se dão conta de que lidam com nomes, eles apenas vão seguindo conceitos, quanto mais universal possível, mais eles seguem: “ser humano”, “comida” (de qualquer tipo), “casa” em que o “humano” o coloca, ou ordens abstratas como “não!”, “bom!”, “vai!”, “deitado” etc.
· Os gatos
Acham o homem enquanto conceito (universal) algo inexistente. Eles não obedecem tais universais, não são coisas que existem, para ele. O gato é “pão-pão-queijo-queijo”, ele acredita no particular, o resto são nomes – meros nomes-.

(Alguns homens, realmente têm a ver, de certa forma, com o que os gatos querem, outros têm a ver com o que os cachorros recebem).


“Muita gente gosta somente de cachorros, pois acreditam que os cachorros gostam deles, enquanto indivíduos: Isso não é verdade.”

· Um cachorro vai com qualquer um, basta que ele perceba que o comportamento de seu novo dono é o comportamento de uma classe, a dos humanos.
· Um Gato não vai com qualquer um, pois ele, ao não dar bola para classes, se vê na situação de ter de optar por aquilo que é tão particular que não cabe em algo que ele diria que é apenas um nome.

Vejamos no comportamento:

· O cachorro:
Se você vai até um padre e pede um conselho ou sugestão, ele tem uma noção bem genérica com a qual ele opera para todos os seus problemas: há o mal e o bem, o pecado e a pureza, Deus e o Diabo. Você está ou numa classe ou noutra, você está ou com uma classe ou outra. O padre, os cachorros e alguns acreditam nos universais.
· O gato:
Entretanto, se você vai para as mãos de um engenheiro, ele tem de ouvir seu pedido e encontrar uma solução exclusiva e particular para você, e se você vai procurar um advogado, mesmo que ele tenha jurisprudência que acolha o seu caso, o seu caso é único, e sua situação vai terminar por gerar alguma jurisprudência, mas a posteriori – é claro. O advogado e o engenheiro e o gato dão créditos aos particulares, não aos universais, os universais são apenas nomes que não apontam para o mundo do aqui e agora, do isto e do aquilo. E a vida ocorre no isto e no aquilo, ainda que para conversarmos os conceitos mais abstratos sejam úteis e funcionem bem.

No debate sobre a verdade:
· Os gatos
Procuram não a verdade, mas o adjetivo verdadeiro que se pode aplicar a cada sentença; ou seja, verdadeiro e falso predicam sentenças;
· Os cachorros
Adoram teorias da verdade, pois elas querem dar conta da “natureza da verdade”.

Sobre a relação mente-corpo.
· Os gatos
Estudam o comportamento de cada sardinha que comem. A relação entre a mente e o corpo da sardinha, para o gato, se revela no comportamento da sardinha. Se ela pula na água de uma maneira que ele pode pegar, ela tem uma excelente relação mente-corpo para ele.
· Os cachorros
Fica muito tempo classificando ossos. Ossos são objetos mortos que não possuem comportamento, então, os cachorros os classificam criteriosamente: ossos novos, ossos enterrados, ossos de brinquedo etc.
· Gatos
Pegam sardinhas, são meio que empiricistas-behavioristas, às vezes, pragmatistas;
· cachorros
Ficam com os ossos, são tradicionais racionalistas.

Obs.Histórica:
A doutrina nominalista vem do mundo grego, mas aparece de modo típico na Idade Média, com o filósofo Ockham. De acordo com sua doutrina, só o particular é, digamos, real, e as palavras que denotam classes são meramente nomes. Os nominalistas entendem que o sistema de nomes cria diferenças e similaridades que possuem existência somente na mente do falante ou no próprio sistema da linguagem.

Observação.
Claro que tem aqueles confusos não sabem o que são, ora são gatos ora são cachorros, e aqueles que querem unir cão e gato na mesma sala: comendo no mesmo prato. Mas creio que a natureza do gato nunca será a do cachorro e a do cachorro não será a do gato. (Quem observa comportamentos -inclusive lingüísticos- ou observa a prática enquanto o que é feito e alimenta a experiência, tende a ser um pragmatista. Quem busca essências não tem tempo para notar comportamentos específicos).
O chato de tudo é que as pessoas que não entendem os gatos vivem no mundo dos cachorros sem amor aos gatos e os que não entendem os cachorros, vivem no mundo dos gatos sem amor aos cachorros. Assim como não somos nem gatos nem cachorros, somos todos de natureza humana e essência igual (supostamente). Quando não respeitamos as idéias ou os ideais dos outros somos como gato brigando com o gato, cachorro brigando com o cachorro e não como cachorros e gatos.

Referências: (è sempre bom ter, pois é daí que vem claro com um toque individual. Mas não devemos esquecer o respeito intelectual).

Ghiraldelli Jr., P. Neopragmatismo, Escola de Frankfurt e marxismo. Rio de Janeiro: DPA, 2001.
Ghiraldelli Jr., P. e Peters, M. Richard Rorty: Education, Philosophy, and
Politics. Nova York: Rowman and Littefields, 2002.
Zabala, S. (org.) O futuro da religião. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006. (*) Este texto é uma versão modificada de uma fala no setor de pós-graduação em teologia e ciências da religião da PUC-SP, nos anos noventa.

Simplismente uma poesia

A Cumeeira de Aroeira Lá da Casa Grande (Jessier Quirino)
Oh! cumeeira de aroeira dessa casa-grande
Veja e nos mande uma visão dessa velha morada
Sendo a parada retilínea do telhado em quedas
Não te arredas dessa empena tão estruturada
Sois a chegada de telheiro, ripa e caibaria
Hospedaria de pavôes, corujas e pardais
Nos teus anais e cabedais de vida em cumeeira
Diz aroeira - dessa casa - o que enxergas mais?

- Pelas janela e portais lá da sala da frente
Vejo contentes e voantes espreguiçadeiras
Relaxadeiras de alpendre junto à rede armada
Lonas listradas, cores-vivas, vidas de cadeira
As choradeiras de avencas pendem dos frechais
E os fuás das trepadeiras jasmineiras voam
Blusas magoam com bateres as saias das portas
E vejo as hortas de verduras que nos afeiçoam.

Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.

Vejo o cimento avermelhado do piso da sala
E nesta sala quatro portas e quatro janelas
Cor amarela combinado com retrato antigo
E pouco artigo de mobília se avista nela
Uma janela abre as asas por cima dum cofre
Atrás do cofre inclinado: rifle e mosquetão
Um birozão de escritório, uma banca de rádio
E junto ao rádio uma cadeira balança no chão.

Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa grande.

A sala interna sem janelas vive apenumbrada
Iluminada pelas frechas vindas do telhado
O decorado do bufê é uma ceia-larga
E se alarga grande mesa de pau trabalhado
De lado a lado, quatro portas, uma a cada quarto
Sala de parto dos bruguelos por ali nascidos
Vejo o florido de lençóis, de redes e armários
E os sanitários de penicos neles escondidos.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.

Segue o comprido estendido da sala do meio
No arrodeio rumo ao fundo grande petisqueiro
O quarteleiro de comidas, louças e talheres
Onde mulheres abrem e fecham pelo dia inteiro
Alvissareiro é o vão que surge mais adiante
A confortante copa-grande junto da cozinha
Sala-rainha, mesa farta, tamanho banquete
Com tamboretes, bancos largos, banca de quartinha.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.

Vem a cozinha festa em festa pelo dia inteiro
Um verdadeiro alegreiro de se cozinhar
O esquentar de um fogão de lenha braseado
E outro fogão de ferro inglês de branco cintilar
Tem o abrir e o fechar do móvel azul pintado
Amorcegado de canecos, conchas e peneiras
A paneleira aramada pende na parede
E mata a sede o pote frio na porta traseira.
Esta é a visão daqui de cima que meu olho expande
Eu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.

Meias paredes me permitem essa visão de encantoEm cada canto um armador e rede ali dobradaTampa curvada de baús e luz de candeeirosE o padroeiro em oratório de vida veladaAs alpendradas lado a lado, não consigo vê-lasMeias-paredes se esbarram no caixão da casaMas são terraços com arreios, silos e ferretesNos pilares as gaiolas com mimos de asa.Esta é a visão daqui de cima que meu olho expandeEu, cumeeira de aroeira desta casa-grande.

Do lado de cá do rio (Marquim do Gonzaga)

A coisa, mas linda.
Que eu vi ano passado:
Teu rosto a me sorrir.

A coisa, mas forte.
Que eu vi e ta guardado:
Meus olhos a brilhar por ti.

Por isso venho aqui te oferecer um bom guardado
Minha casa, minha roça, minha fé,
Minha foice, enxada, minha faca amolada,
Minha honra e tudo que eu tiver.

Se você quiser e atravessar o rio gurgueia
Do outro lado nunca vai faltar
Pesca, caça, todo mel da colméia.
E os passarinhos que cantar